Folha de Sâo Paulo, Brasileiro conseguiu realizar sonho de ser músico em Madri

Brasileiro conseguiu realizar sonho de ser músico em Madri
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI - Clóvis Rossi


Nem todos os brasileiros que desembarcam em Madri em busca do eldorado continuam dormindo em "camas calientes". Há quem tenha histórias de sucesso para contar, se e quando voltarem ao Brasil, como é o caso de Reginaldo Lima, 34, de Manaus (AM)."Queria realizar o sonho de ser músico e achava que seria mais fácil na Europa e que seria mais reconhecido no Brasil se fizesse sucesso fora", conta Lima, que largou o emprego de assistente de marketing da TV Cultura do Amazonas para ir a Lisboa, em busca do sonho.Parou em Madri, gostou, achou as mulheres lindas e ficou. Até hoje, nove anos depois. O começo foi complicado. Passou três meses em um albergue da Cruz Vermelha, que, no entanto, foi a porta de entrada para o sucesso. Um angolano do albergue lhe emprestou um violão, com o qual Lima passou nove meses (como ilegal) tocando em trens do metrô, em praças públicas, onde pudesse.Até que, numa dessas audições improvisadas, um deputado alemão do Parlamento europeu o acompanhou na letra de "Lady Laura", de Roberto Carlos, sua especialidade.Foi contratado, foi se tornando mais e mais conhecido e hoje tem um programa de rádio ("La Movida Brasileña"), que vai ao ar todo meio-dia pela Rádio Círculo (do Círculo de Belas Artes, um dos mais nobres endereços culturais de Madri).Reginaldo diz que 100 mil pessoas escutam seu programa a cada dia. O nome "Movida" é um neologismo criado para designar a explosão de baladas na noite madrilenha depois da redemocratização de 1977.Lima deu tão certo que atraiu a sorte. Uma noite, foi atacado por romenos, que lhe roubaram tudo, do celular ao dinheiro. Quando se preparavam para lhe dar uma surra, um deles perguntou se era cigano, pelo tom de pele e o rabo de cavalo enrolado. "Sou brasileiro", disse. Devolveram-lhe tudo.Caso raro de racismo pelo avesso. O usual é o contrário, como constatou o pesquisador Leonardo Cavalcanti em sua pesquisa com brasileiros em Barcelona:"Os que são mais negros ou mulatos e, portanto, mais parecidos com os africanos ou árabes, respectivamente, são mais estigmatizados. Os brasileiros mais parecidos ao imaginário do fenótipo europeu afirmam que nunca tiveram dificuldades com a polícia, por exemplo, e são considerados aparentemente como "normais", enquanto aqueles que levam na pele o estigma de ser identificado como imigrante afirmam estar à mercê de uma percepção que lhes marca um lugar socialmente diferenciado".

09 de Março de 2008.

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